Assim como um padre da Igreja Católica lê versículos da Bíblia e faz explicações, discursos e sermões, apoiando a condução da sua missa naquelas passagens bíblicas, as Kathas sikhs são sermões ou discussões embasados nas passagens do Siri Guru Granth Sahib ou nas outras escrituras sikhs. Isto é uma típica Katha.
Katha não é um termo exclusivo da fé sikh. A palavra também é amplamente usada em outras religiões, a exemplo do Hinduísmo.
No contexto do Sikhi, Katha significa Explicação ou Discurso sobre o Gurbani. Caso você for pesquisar o assunto 'Katha Sikh' na Web, você vai encontrar o que procura mais facilmente se usar a palavra chave 'Gurbani Katha'.
Além das definições oficiais de o que é Katha, você não vai encontrar uma unanimidade entre os sikhs a respeito do que é válido ou não como Katha, ou mesmo, você poderá encontrar diferentes opiniões e divergências em relação ao assunto de Gurbani Katha. Recomendo a leitura do artigo, em inglês:
Não há unanimidade em vários conceitos em torno de Katha, mas uma coisa é certa: Quando alguém mais experiente na relação com o Gurbani fica inspirado a compartilhar o seu entendimento com os demais, isto rende muitos frutos, muitas bençãos, podendo ajudar a dissipar a ignorância. A compreensão é algo contagiante!
Quando é da vontade de Vaheguru Ji, alguém faz discursos sobre as escrituras e a platéia se aquece no entendimento da explicação. Katha, o discurso sobre o Gurbani, é uma das grandes maravilhas da Sangat, a sagrada congregação.
E quantas vezes eu já me senti abençoado por Kathas? Quanta gratidão eu sinto por Giani Sant Singh Maskin por ter deixado tantas Kathas registradas, para abençoar o nosso muitas vezes árido caminho de sikhs iniciantes.
Kathavachak é como são chamadas as pessoas que fazem Katha. Existem Kathavachak famosos em todo o mundo, como Giani Sant Singh Maskin Ji e Bhai Jagraj Singh Ji.
Em minha experiência, pude ver que o Gurbani Ele mesmo nos guia, Ele mesmo nos ensina e mostra os caminhos, mas, quando encontramos um Kathavachak com o qual nos sentimos afins, que traz um discurso forte, convincente, e recheado de Gurbani, isto pode ser um divisor de águas em nosso caminho, pode nos trazer muitos atalhos e pode ajudar-nos a sair de certos labirintos mentais.
Eu sou grato a ambos Kathavachaks: Giani Sant Singh Maskin Ji e a Bhai Jagraj Singh Ji, porque estes dois sikhs impactaram muito minha vida como sikh. Certamente sou um sikh melhor do que eu era antes de conhecê-los.
Quantas vezes, eu ri junto com Sant Singh Maskin Ji em seus livros? Outras vezes eu chorei com os livros dele? Sinceramente, quando estou navegando nas Kathas de Maskin, eu nunca me sinto sozinho, eu sinto que realmente ele está comigo no quarto, segurando na minha mão e me ensinando tudo, assim como um pai ensina a uma criança.
Alguém da minha família certa vez me perguntou: 'Você vai ler esse livro de novo? Quantas vezes você já leu?' Eu respondi: 'Esse aqui, todo ano eu leio'. É mais ou menos assim, a minha relação com as Kathas de Sant Singh Maskin Ji.
Bom, já entendemos então, alguns conceitos sobre Katha. Como se trata de um discurso, um sermão, uma explicação, as Kathas, tradicionalmente, são feitas nos Gurdwaras (templos).
Hoje em dia, as Kathas são feitas também no formato de streaming, ou em vídeo, ou em áudio,etc. Sim, você penso certo se lhe veio à mente Youtube, Soundcloud, Spotfy, etc. Há inúmeras Kathas nestas plataformas. Há também transcrições e Kathas disponíveis no formato de escrita e algumas são oferecidas como livros.
Se você já está um pouco familiarizado com a história do Sikhi, não é difícil entender que em matéria de idioma, para o Sikhi, tudo, tudo parte do Punjabi. Não é diferente para as Kathas. A grande maioria das Gurbani Kathas estão disponíveis no idioma Punjabi.
Para nós ocidentais, esta centralização do Gurbani no Punjabi pode, no início, parecer ser um grande obstáculo, mas, não devemos desanimar. Embora, com menos opções, existem sim, outros caminhos para acessar vários conhecimentos do Gurmat. Mas se você está interessado em conhecer tantas kathas quanto possível, você pode começar a pensar em aprender Gurmukhi/Punjabi.
A língua inglesa não é perfeita, e nem é espiritualmente sofisticada como os idiomas indianos, mas o Inglês é um belo curinga que nos socorre quando precisamos, e nos dá acesso a tanta coisa... que imaginar a vida de um sikh ocidental iniciante, sem o socorro do Inglês, seria dramático demais.
Porque, quando você está se roendo de curiosidade para saber algo, mesmo que você não saiba nada de inglês, você recorre alí a um Google Translate e descobre o que está sendo falado. E comparado a outras línguas, as traduções do inglês para o português tem um caminho bem simples para se compreender o básico, não exige muito de nós.
Além do mais, as comunidades sikhs se estabeleceram de maneira muito sólida nas regiões do mundo onde o Inglês é forte como idioma local, a exemplo do Canadá, do Reino Unido, dos Estados Unidos, da Austrália e Nova Zelândia.
Cada vez mais, conteúdos sikhs que existiam somente na língua Punjabi vêm sendo traduzidos também para o Inglês. Nesta grande onda de produção sikh em Inglês, podemos destacar o papel do canal do Youtube 'Basics of Sikhi', que já produziu e continua produzindo uma vertiginosa quantidade de publicações em inglês, com altíssima qualidade dos conteúdos. Os principais conteúdos do BoS, tradicionalmente, são seus vídeos, porém, depois vieram outros formatos, com postagens de Blog, folhetos, eventos, cursos, uma infinidade de atividades educacionais para sikhs e entusiastas.
O Canal Basics of Sikhi se consagrou junto às comunidades de sikhs de todo o mundo, como uma ótima fonte de Kathas, sendo seu principal Kathavachak, o fundador do BoS, Jagraj Singh Ji. Já existem vídeos em Português no canal do BoS.
Façamos uma analogia. Considere que a parte mais interna da cebola, sua primeira camada , é a Língua Punjabi. Ali, no miolo desta cebola, é onde está o maior volume de conhecimentos a respeito do Gurbani e das práticas sikhs em geral.
Partindo do Miolo (Punjabi), vamos para a segunda camada, onde estão as línguas Hindi, Urdu e outras línguas indianas locais do Punjab(Índia) e Pakistão. Neste caso, para nós ocidentais, encontrar traduções do Gurbani para o Hindi não vai facilitar a nossa vida, na maioria das vezes, porque a maioria dos brasileiros não sabe idioma Hindi.
Depois desta camada, temos o inglês, ou o francês para outros países. Para nós, sikhs ocidentais, esta terceira camada, a da língua inglesa, é o grande ponto de contato linguístico, onde as trocas de conteúdo acontecem de forma mais intensa. O Inglês é a grande interface de contato linguístico do Gurmat com o Ocidente!
E para nós, falantes da língua portuguesa, ela estaria, na quarta camada mais externa, dentro desta analogia da cebola. Na quarta camada estariam o Português, o Espanhol, dentre outros. Observe que existe alguma correlação destas supostas camadas linguísticas, com a progressão histórica da disseminação do Gurmat (ensinamentos da filososfia sikh) no Ocidente.
O inglês alimenta e complementa o Português, sempre que necessário
Pois bem, este site (capasib) e o blog tentam, sempre que possível, trazer as informações no nosso idioma, o Português.
No entanto, há alguns temas e práticas sikhs que ainda não estão disponíveis na Web em Português. Neste caso, eu prefiro disponibilizar em Inglês mesmo, do que deixar de mencionar ou indicar.
Além do mais, no Brasil existe uma boa parcela da população que usa o idioma inglês com frequência, seja em suas pesquisas na Web, seja em seu trabalho, hobby, etc. O inglês está sempre à mão. Também, para a finalidade de auxiliar a tradução do Gurbani, o Inglês será sempre um fiel irmão mais velho do Português.
Eu confesso que não sou alguém experiente com Kathas. Em meu caminho demorei um pouco para conhecê-las e acessar os benefícios de estudar o Gurmat com o auxílio das Kathas. Eu já tinha uns 4 anos de sikh, quando comecei a consumir sistematicamente vídeos de kathas e textos esparsos. Antes disso, eu estava focado somente no Gurbani e nas traduções em que eu tinha acesso naquela época.
Mais tarde, adquiri vários livros de Kathas em inglês, a maioria deles de Giani Sant Singh Maskin Ji.
Estas Kathas de Maskin, que hoje estão disponíveis na forma de livro impresso, originalmente, foram registradas em aúdio no formato de fitas cassetes, ou em vídeo nas fitas VHS, depois foram digitalizadas, remasterizadas, etc. Elas foram agrupadas pela equipe editorial e publicadas em Punjabi no formato de livros, para o desfrute dos leitores. E mais recentemente, foram traduzidas para o Inglês. Em Amritsar, eu passei uma semana fazendo praticamente uma única coisa: procurando livros em sebos e livrarias.
Os livros e os textos sempre ecoaram mais no meu aprendizado como sikh do que os vídeos. Embora eu possa dizer que sou um tremendo consumidor de vídeos, alguém até um pouco compulsivo com isto, quando se trata de vídeos sobre Sikhi ou sobre algum assunto que direta ou indiretamente esteja ligado ao meu processo de aprendizado ou produção de conteúdo sikh.
Eu posso dizer que, exceto a leitura diária dos banis, o meu consumo de vídeos é muito maior do que a minha leitura de textos ou livros. Porém, confesso que os textos são mais assertivos. Por quê? É simples de entender. Em um texto em inglês, como ele estático, eu tenho maior controle sobre a tradução e assim, eu não passo para a linha seguinte sem saber o significado de todas as palavras da linha atual do texto. Ou seja, no texto, eu caminho em lentas camadas progressivas de compreensão.
No vídeo, o meu entendimento do conteúdo é mais caótico. Aquele entendimento bonitinho, progressivo do texto não acontece. Não é nada prático assistir um vídeo pausando de minuto em minuto, pelo menos pra mim. E dependendo de quem está falando no vídeo, é um salve-se quem puder pra entender. Alguns Kathavachak falam muito rápido e, mesmo que eu assista na velocidade 0,75x, ainda assim, eu acabo perdendo muita coisa. Eu tenho o hábito de assistir vídeos enquanto faço alguma tarefa manual, o que dificulta ficar pausando para captar os detalhes da tradução. A minha conclusão é que, enquanto eu não parar tudo e dedicar um tempo exclusivo para aquele vídeo, nem eu vou compreendê-lo adequadamente, nem eu posso passar para o próximo vídeo da série. Além do mais, o celular, que é onde assisto a maior parte dos vídeos, é uma infernal fonte de distrações, com sua tagarelice de notificações.
No final de minha peregrinação pelas muitas livrarias e sebos, quando olhei para aquela caixa enorme que estava sendo embalada no Correio Postal, eu pensei:
"Será que eu estou agindo certo levando tantos livros deste Kathavachak? Esta caixa está pesada, cheia de livros? Será que ele é bom mesmo quanto parece?"
Eu havia tomado aquela decisão de levar todos os livros de Maskin que eu encontrasse em Inglês, se houvesse 100 livros do Maskin traduzidos, eu levaria todos eles! Não importa como. Isto, porque Maskin havia fisgado o meu coração de uma forma avassaladora quando eu li um de seus livros, que baixei na internet ainda quando eu estava no Brasil.
Afinal, como usar as Kathas? Como consumir seus conteúdos? Como aplicá-las em nosso cotidiano?
Eu respondo a estas perguntas da seguinte forma: Até hoje, a forma mais produtiva que encontrei de usar as Kathas foi no estudo em camadas dos Banis.
Eu uso a Katha do Bani como um acabamento, como a terceira e última camada do estudo de um Bani. É a última camada no processo de memorização e assimiliação, mas como a essência da Katha está no entendimento do Bani, podemos dizer que o estudo da Katha é infinito, pois o entendimento do Bani é infinito em possibilidades, e quanto mais estudamos com atenção um Bani, mais profundo vai ficando nosso entendimento sobre ele.
Se você já está um pouco familiarizado com o Sikhi, você sabe que um sikh tem vários banis para recitar todos os dias, sendo que ele deve recitar diariamente, no mínimo, os Banis do Nitnem. Então, como seria este estudo em camadas?
Como as Kathas são explicações sobre o Gurbani, eu não acho produtivo assistir Kathas sobre um Bani, sem antes ter uma base daquele Bani. E o que seria ter base de um Bani? Ter base é ter o Bani memorizado, sabê-lo de cor. Sim, você precisa memorizar os Banis, isto é muito importante, não só pra você ter Base para assimilar uma Katha, mas por muitos outros motivos.
Memorize o bani em Gurmukhi (ou a versão romanizada); A primeira camada do estudo é a memorização completa ou parcial do Bani em Gurmukhi. É claro que se você ainda não aprendeu Gurmukhi, você pode usar a transliteração ou romanização, etc. A memorização completa é aquela em que você memoriza toda a extensão do Bani, desde quando ele começa, até o fim. A memorização parcial também pode ser feita. Deste jeito, o seu estudo em camadas será por Pauris (Estrofes), ou dependendo do Bani, você fará a memorização parcial, por capítulos. O objetivo desta camada de aprendizado é, ao final, você ser capaz de recitar o Bani de cor, total ou parcialmente. É importante, também nesta fase, tentando extrair o som mais próximo do correto possível. Já que você está memorizando os versos e seus respectivos sons, então, que você memorize-os corretamente, e não improvisadamente. Para detalhes sobre isso, estude Santhiya. Lembre-se de que o Gurbani é sagrado, e para o que é sagrado, não devemos medir esforços, nem fazer corpo mole.
Após ter o Bani memorizado, agora é o momento de memorizar a versão traduzida em português, de preferência uma tradução mais enxuta, mais literal. Uma tradução mais enxuta é mais organizada e mais simples de memorizar, além disso, uma tradução mais enxuta vai te dar um ambiente mental mais clean para trabalhar, mais receptivo e propício para assimilar novos conhecimentos que vão vir, oriundos da Katha. A segunda camada de estudo, a memorização da tradução, acompanha a primeira camada, se você memorizou o Bani inteiro na primeira camada, agora na segunda você vai memorizar a tradução inteira do Bani. Se foi parcial, você vai memorizar agora a tradução daquela parte, etc.
Após o Bani e sua tradução memorizados, você está agora apto para estudar a Katha(do Bani). Ter esta base vai te dar condições, inclusive, de discordar do Kathavachak em algum momento do seu discurso, se for o caso. É em cima desta base, Bani e sua tradução memorizados, é que a mágica da Katha acontece.
Entenda que uma Katha não costuma ser um discurso qualquer, existe um imenso investimento de tempo, formação, estudos, pesquisas dispendidos na preparação de uma Katha. E costuma haver uma densidade de conhecimento nestes discursos, que demanda de nós, leitores ou audiência, que tenhamos uma atenção redobrada ao consumir uma Katha. Pode-se dizer que todo o Gurbani é uma Katha manifestada pelo Naam, mas isto seria assunto para outro lugar. Vaheguru Ji!
Eu já assisti várias Kathas, muitas delas de Banis que não estão no Nitnem, mas infelizmente, em muitas delas eu assimilei pouco ou quase nada. Eu sou uma verdadeira enciclopédia de Kathas esquecidas, rsrs.
As vezes que assisti Kathas sem ter memorizado o Bani antes, foram as que eu menos aprendi, porque as informações ficam soltas e vagas. Ainda mais se você começa uma série de vídeos de Kathas, pára no meio, e passa pra outra série. Nós desperdiçamos muito tempo quando estamos desorganizados, deixando o nosso destinho ser desenhado pelo sabor de nossa criança mimada e irresponsável. É de chorar!
É até legal abrir uns vídeos de Katha sem uma preparação, você pode até arrepiar coma as falas e achar lindo, mas o problema é que você, provavelmente, vai esquecer, se aquele Bani não está no seu dia a dia. Definitivamente, não é assim que você deve fazer. Eu estou aqui para te contar o que eu fiz e não deu certo.
Se você tem o Bani memorizado e ainda mais a tradução, tudo fica mais fácil, então você vai poder saber do que o Kathavachak está falando. Se você já tem o tronco(Bani memorizado), e os galhos (Tradução memorizada), é muito mais fácil, você desenhar as folhas nos lugares corretos (Katha). O seu grau de retenção de uma Katha, quando você tem base é infinitamente maior do que cair de paraquedas numa Katha de Bani. O fato é que, quando você se preparou para assistir uma Katha, ou seja, você memorizou o Gurbani e sua tradução básica, então o entendimento da Katha vem de forma natural e você cresce espiritualmente.
O ideal é que você não estude apenas uma Katha, mesmo que ela seja muito boa. Veja outras Kathas do mesmo bani, ouça, assista, leia, cada vez mais há Kathas disponíveis. Esta é a forma mais produtiva que encontrei de usar as Kathas dos Banis. É claro que esta não é a única forma de estudar as Kathas e cada sikh pode trazer uma opinião diferente sobre isso.
A minha sensação é que o hábito de consumir Kathas, complementando o hábito sagrado da recitação diária dos Banis, isto nos leva a ficar mais fortes, a ganhar consistência, robustez, é como se os Banis encarnassem mais em nós, ficassem mais vivos em nosso cotidiano; porque as Kathas jogam luz no nosso intelecto, elas explicam, ajudam a abrir a nossa visão, deixando os versos do Gurbani mais claros pra nós, e, porque não, mais bonitos às nossas vistas!
Eu me lembro que há uns 3 anos atrás, eu fiz uma imersão em muitos vídeos de Katha do Japji Sahib e eu me lembro que, naquela época, eu nunca havia me sentido tão seguro, tão corajoso e tão pronto para balizar minhas atitudes morais ou desafios, sejam eles quais fossem. Eu tenho certeza que este aumento do meu calibre moral naquele momento, era um efeito direto daquelas Kathas do Japji, incluindo as Kathas do Japji do Sant Singh Maskin (no formato de livro). Já faz um tempo que eu fiz isso, e percebo que já está passando da hora de eu revisá-las. Quem tem o hábito da leitura e do estudo, sabe que não basta estudar, tem que estar sempre atento às revisões para não desperdiçar estas sublimes sabedorias do Gurbani.